13/04/2011

A menina do forte



Um dia, um amigo escreveu este texto sobre mim...

"A Menina do Forte
Foi traída pelo sorriso. Mulher sociável e cosmopolita, extremamente simpática, é inteligente e sagaz. Um sentido de humor perspicaz. Envolve-nos na conversa, o olhar monopoliza a nossa atenção. Confrontada com naturalidade, responde prontamente, a conversa flui. Fala longamente de si, conta as suas
mágoas, as suas alegrias, os seus medos, os seus sentimentos. Deixa-se levar no momento com confiança e serenidade...

Foi o sorriso que a traíu.
Usava o sorriso como um escudo, deflectindo toda e qualquer intrusão ao seu espaço. Um medo terrível a assola constantemente. É básico e instintivo, fruto de anos de prática. Morre de medo de alguém penetrar naquele jardim secreto. Erigiu à sua volta um forte, que defende com todas as armas. O seu sorriso é o seu escudo, mas o humor é a sua arma. Usa a brincadeira para lançar uma névoa sobre aquele espaço íntimo. Como água, escoa-se por entre os dedos quando a tentamos pegar. "Não é com as mãos que se transporta água", penso.
E, depois desta consciência, tudo o resto tombou, as paredes do forte tornaram-se transparentes. Ela usa as palavras porque lhe permitem distanciar as emoções. Embora íntimo, tudo o que conta permite-lhe, pensa ela, criar a última barreira ilusória, em que defende aquele espaço sagrado. Com as palavras, tenta desesperadamente tomar o controlo das conversas, numa tentativa vã de se esconder.
Por último, também o olhar se desvenda. O seu olhar, quando compreendido, traduz o turbilhão de emoções e a confusão que lhe tolda os pensamentos. Assusta-se facilmente, rapidamente se torna desconfiada. As suas próprias emoções estão em constante mutação. O que se mantém sempre é o terrível medo de estar vulnerável.
Ilude-se... Acredita que a sua constante fuga lhe preserva aquele espaço secreto, quando na verdade está exposto através de muralhas de cristal. O seu precioso forte é a sua maior ilusão...
Por o acreditar escondido, é que se magoa tanto. Por isso é que a conseguem magoar tanto..."